colunista do impresso

Viver é navegar num mar de incertezas

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Há três meses, nos deparamos com situações de manifesta anormalidade institucional. Muitas delas decorrentes de fatos supervenientes e alheios às vontades das administrações que, para evitarem riscos de danos graves à vida, à saúde popular, à segurança ou à ordem pública, adotam medidas rígidas que afetam radicalmente o nosso cotidiano. Vivemos um momento de incertezas, à mercê de regras estabelecidas por terceiros que, para uns são justas, para outros são injustas.

Diante de tanta indefinição e questionamentos lembrei do livro Grande Sertão: Veredas, do médico, escritor e diplomata João Guimarães Rosa. O livro, conhecido mundialmente, conta as aventuras, os medos e os amores do fazendeiro Riobaldo, que foi ex-jagunço e chefe de bando, mas principalmente suas dúvidas, sobre a existência do bem e do mal, de Deus e do Diabo. Os questionamentos de Riobaldo sobre os mistérios da vida são um reflexo do que todos sentimos em relação a ela e a nossa existência, principalmente agora, diante das incertezas.

Nesta última semana, a população gaúcha vivencia um dos momentos de maior incerteza, diante das trocas de bandeiras, do abre e fecha do comércio, da mudança de horários e das consequências dessas normas. Entender tais medidas, num cenário onde prevalece a ausência de certezas, exige muito autocontrole, fé e esperança, ainda mais quando há entendimentos tão antagônicos para enfrentamento da pandemia.

Dizem os livros de psicologia que duas emoções básicas dos seres humanos são o medo e a esperança. A incerteza é a vivência das possibilidades que emergem das múltiplas relações que podem existir entre o medo e a esperança. Pela diversidade das relações, diferentes são as incertezas das pessoas e as suas formas de enfrentamento. Então, o que fazer diante dessa imprecisão?

O filosofo francês Edgar Morin, de 98 anos, ao falar sobre esse momento de pandemia disse que: "Viver é navegar um mar de incertezas, através de ilhotas e arquipélagos de certezas nos quais nos reabastecemos... Mesmo que o momento atual nos obrigue a encarar as incertezas, podemos abraçar a certeza dos fatos que acompanhamos diariamente: o despertar da solidariedade e da oportunidade de reforçar a consciência das verdades humanas que fazem a qualidade de vida: amor, amizade e comunhão".

Não há dúvidas de que, em meio a essa  pandemia, pelo fato de compartilharmos os mesmos problemas e desafios, diariamente, somos surpreendidos com ideias e ações novas que demonstram uma potencialidade a ser valorizada e mobilizada. Temos no patrimônio humano uma fantástica diversidade de pensamentos, modos de vida, com criatividade inimaginável para propor alternativas adequadas para enfrentarmos os problemas.

O escritor moçambicano Mia Couto diz que: "A incerteza é um abraço que damos ao futuro. Ela é uma ponte entre o que somos e os outros que seremos". Portanto, tenhamos esperança que esse momento de incertezas seja o meio para a evolução do ser humano e de uma transformação social positiva.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Geração mimimi. Não tem lógica nem democracia! Anterior

Geração mimimi. Não tem lógica nem democracia!

PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli Próximo

PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli

Colunistas do Impresso